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Medir o impacto de projetos através de números é importante, mas pode trazer uma visão rasa sobre transformação social

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Setor precisa também estar atento à escuta qualificada das comunidades e aos impactos qualitativos que não não mensuráveis

Monitoramento e avaliação de impacto são etapas indispensáveis da execução de qualquer projeto. No terceiro setor não é diferente. Assim, recorrer aos números e à produção de dados é um dos principais caminhos adotados.

Para Camila Rocha Silva, CEO da Fundação Otacílio Coser, a preocupação do setor de impacto é não entrar em subjetividades, apresentando números tangíveis, como quantas comunidades, municípios ou pessoas de determinado grupo social foram beneficiados.

O diretor de Operações e Relações Institucionais no Movimento Bem Maior (MBM), Richard Sippli acredita que da maneira que são usados hoje, os números trazem uma visão ampla, porém parcial e um pouco rasa da transformação social efetivamente gerada a partir do trabalho das Organizações da Sociedade Civil (OSCs).

“Permite comunicar resultados ao público externo com objetividade e clareza. Mas essa é apenas metade do trabalho de monitoramento e avaliação, a outra diz respeito aos impactos não mensuráveis, sutis, qualitativos”, pondera.

Projetos replicáveis e escalonáveis 

É visando o maior impacto possível, que no momento de desenvolver um projeto, avaliar o quanto ele pode ser escalonável faz diferença. Richard Sippli explica que existem diferenças entre escalonável, escalável, replicável e reaplicável.

“Escalonável é tudo aquilo que pode ser trabalhado em etapas, que demanda um aumento de estrutura constante para acompanhar o aumento do impacto gerado. São estratégias de negócio para ampliar o alcance de determinada iniciativa ligadas diretamente ao modelo a ser desenvolvido.”

Assim, o diretor ressalta que é difícil estabelecer uma regra para o que pode ou não ser escalonável, considerando a influência de novas tecnologias, que podem rapidamente transformar um modelo inicialmente escalonável em um modelo escalável, “onde é possível aumentar o impacto sem significativo aumento de estrutura, por exemplo.”

Camila Rocha Silva exemplifica a partir do Programa Escolaí, da Fundação Otacílio Coser, que considera escalonável. Em formato de gincana interescolar, os estudantes realizam missões colaborativas refletindo sobre temas atuais e relevantes para a sua vida e futuro da geração. “Através da mesma metodologia e plataforma digital, é possível atender 5 mil escolas diferentes e alcançar milhões de estudantes.”

Importância da escuta nos territórios

Mas nem sempre olhar exclusivamente para o número de pessoas ou territórios impactados é o caminho. Para Richard Sippli, isso depende do objetivo de cada financiador, “mas certamente não é o mais eficaz se o objetivo for reduzir desigualdades e promover justiça social.”

Hoje, o MBM prioriza escutar as demandas e respeitar o conhecimento das lideranças que já atuam nos territórios. Ou seja, não basta perguntar apenas quantas pessoas estão sendo beneficiadas, mas quem são essas elas, o que realmente querem e como efetivamente esse benefício está chegando.

“A influência de saber fazer certas perguntas e escutar atentamente às respostas pode ser a diferença entre gerar um impacto social positivo, neutro ou negativo”, completa.

Para lidar com o desafio de alcançar o equilíbrio entre apresentar impactos por meio de números, e garantir que as comunidades estão tendo suas necessidade ouvidas, Camila Rocha Silva aponta alguns caminhos: ter uma intencionalidade clara com o projeto; priorizar a escuta qualificada; co-criar com os grupos e territórios de modo que monitoramento não seja uma ferramenta de controle, mas de serviço.

“Não queremos salvar ninguém, queremos ser ponte para que os recursos cheguem à população mais vulnerável. Eles conhecem suas necessidades melhor que ninguém. Essa posição de humildade é fundamental para o terceiro setor e para os financiadores.”

Richard Sippli concorda, e agrega outro caminho: sair do olhar que avalia apenas o impacto no indivíduo e passar a olhar para “unidades de transformação”, como famílias ou bairros.

“A mudança da mentalidade do investidor faz toda diferença de como acompanhar, monitorar e medir impacto: onde não é sobre a gente, mas sobre o outro”, finaliza Camila.

 

Fonte: GIFE

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